CASO SURREAL Ana Maria de Nigris

 

 

 

                                         https://www.puc-campinas.edu.br/

         Meu filho caçula, Guilherme (que só chamo de Guigo) protagonizou um momento extremamente curioso ao meu lado, que relato agora.

        Desde pequeno, o Guigo mostrava algumas fixações por figuras ou coisas! Amava trens! Fazia escândalos quando passávamos perto de um. E tinha um herói, que não era um ferroviário, mas um grande nome, quiçá o maior nome da aviação: isso mesmo, Santos Dumont! Sabia tudo da vida dele, era uma paixão imensa! Eu tinha de comprar todos os livros que falassem do grande pai da aviação.

        Pois bem: um belo dia, estando o Guigo já adulto e quase formado em Design, fomos resolver algumas pendências burocráticas bancárias e eis que havíamos dado falta de uma xerox de conta de luz. Imediatamente, fomos a uma copiadora no bairro onde estávamos, a Vila Santa Cecília, já contando com a demora em fazer a tal cópia. Engano nosso, a copiadora estava vazia, ou quase, tendo apenas um senhor sendo atendido. Era uma pessoa bastante conhecida na cidade, “Tio Mica”, tinha um programa de entrevistas de rua em um canal de TV paga. Obviamente eu o conhecia, mas a recíproca não era verdadeira.

        De repente, do nada, esse senhor vira-se para nós e diz: “Vocês sabem que Xerox eu estou fazendo?” E nós, com absoluta “cara de pastel”, nos entreolhamos como só mães e filhos sabem fazer, um olhar que dispensa palavras, e respondemos educadamente: “não senhor”. A esperada tréplica veio de pronto: “estou fazendo uma cópia da certidão de batismo de Santos Dumont! Vocês querem uma cópia?”.

        Nem lembro quantos segundos demoramos para fechar a boca, tamanho o espanto. Guigo emudeceu, ficou lívido, deixando a mim a resposta óbvia: “claro que queremos! Quanta gentileza de sua parte”. Desnecessário explicar que houve uma explanação da origem da certidão, visto ter sido o grande Santos Dumont batizado na pequena Rio das Flores, aqui no estado do Rio de Janeiro.

        Foi um acaso tão surreal e, ao mesmo tempo tão significativo, que ficamos falando sobre o ocorrido por horas, dias. Nunca mais encontrei o tal senhor e nem ele sabe quem somos nós! Ele também jamais soube que ofereceu a certidão a um fã incondicional do Pai da Aviação! Talvez Jung chamasse de sincronicidade, talvez um acaso fortuito, talvez um chiste do “Cosme” (como eu chamo o “Cosmos”)...Mas, como diria o Guigo, que coisa bizarra!

        E, para terminar, deixo duas pequenas coincidências para coroar o breve e estranho relato: o primeiro voo dirigido da história, contornando a Torre Eiffel, com o Dirigível Nº 6 em Paris, ocorreu em 19 de outubro, dia do aniversário do Guigo. E meu pai trabalhou por anos, funcionário de carreira, da Aços Villares, no ABC paulista, empresa da família de Santos Dumont! Mero acaso, caro leitor/leitora... Mero acaso...

 

1) No trecho “ ... isso mesmo, Santos Dumont!”, o termo destacado retoma:

a) Guigo
b) ferroviário
c) herói
d) trens
e) filho Guilherme



2) O vocábulo que melhor expressa o sentido de “cara de pastel” em “E nós, com absoluta “cara de pastel,...” é:

a) credulidade

b) assombro
c) vergonha
d) lerdeza
e) constrangimento


3)Assinale  o excerto em que o verbo expressa a ideia de obrigatoriedade:


a) “Quanta gentileza de sua parte!”
b) “Vocês sabem que Xerox eu estou fazendo?”
c) “E, para terminar, deixo duas pequenas coincidências...”
d) “...ficamos falando sobre o ocorrido por horas, dias.”
e) “Eu tinha de comprar todos os livros...”



4) Sabendo que acaso significa acontecimento casual e fortuito, que acontece por acaso, em “... talvez um acaso fortuito, talvez um chiste do “Cosme”, a redundância foi empregada para:

a) amenizar o emprego incomum do substantivo.
b) confrontar a ideia de causalidade do caso.
c) explicitar o ocorrido.
d) reiterar a eventualidade da ocorrência.
e) ratificar a perspectiva de humor do episódio.


5)Em  “...mas um grande nome, quiçá o maior nome da aviação”, o advérbio destacado sugere:

a) intensidade

b) afirmação
c) modo
d) tempo
e) probabilidade

 
6) A palavra em destaque no excerto “Engano nosso, a copiadora estava vazia, ou quase, tendo apenas um senhor sendo atendido. Era uma pessoa bastante conhecida na cidade, “Tio Mica”, tinha um programa de entrevistas de rua em um canal de TV paga.” estabelece uma relação de concordância com:

a) Tio Mica

b) senhor
c) atendido
d) pessoa
e) bastante


7) Esse texto é um retrato verbal  de um acontecimento do cotidiano de Guigo e sua mãe, podendo, portanto, ser identificado como:

a) conto
b) novela
c) lenda
d) romance
e) crônica


8) Nesse texto, o termo bizarro ( “coisa bizarra”) foi empregado para:

a) expor o vocabulário de Guigo.
b) caracterizar o caráter excêntrico do episódio.
c) ironizar a atitude do dono da certidão de batismo.
d) remeter ao universo infantil de trens e aviões.
e) asseverar a veracidade do ocorrido.


9) Assinale o item que apresenta um trecho com a informação principal do texto:

a) “... “estou fazendo uma cópia da certidão de batismo de Santos Dumont! Vocês querem uma cópia?”
b) “ Desnecessário explicar que houve uma explanação da origem da certidão,...”
c) “ Era uma pessoa bastante conhecida na cidade, “Tio Mica”, tinha um programa de entrevistas de rua em um canal de TV paga.”
d) “ Nem lembro quantos segundos demoramos para fechar a boca, tamanho o espanto.”
e) “ o primeiro voo dirigido da história, contornando a Torre Eiffel, com o Dirigível Nº 6 em Paris, ocorreu em 19 de Outubro, dia do aniversário do Guigo.”


10) Pode-se inferir que o caso fez com que Guigo se sentisse:

a) ameaçado
b) surreal
c) estupefato
d) famoso
e) iludido


 

VEJA TAMBÉM:

Comentários