Postagens

Mostrando postagens de julho, 2021

O TEMPO DE RELÓGIO Gregório Duvivier

Imagem
    O tempo pro brasileiro é tão fluido que a gente inventou a expressão “hora no relógio” – na Bahia, diz-se “hora de relógio”. Nesse momento um suíço ou um inglês tem uma síncope. “Existe alguma hora que não seja de relógio?”              Caro amigo, existe uma imensa variedade de horas. Na expressão “espera só meia horinha”, “meia horinha” costuma demorar duas horas de relógio, enquanto na frase “tô te esperando há horas”, “horas” pode significar só “meia horinha” de relógio. Por isso a importância da expressão “de relógio”: na hora do relógio, cada um dos minutos dura estranhos 60 segundos de relógio – não confundir, claro, com os segundinhos e os minutinhos, que podem durar horas de relógio. “O senhor tem cinco minutinhos?” “Tenho – mas no relógio só tenho uns dois”.              Sim, o diminutivo muda tudo. Quando se marca “de manhãzinha”, é no início da manhã, de oito às dez, mas se por acaso marcarem “de tardinha”, estarão se referindo ao fim da tarde, de cinco às sete. N

O FIM DO MUNDO, SEM PETRÓLEO Reportagem da “Folha da Tarde”

Imagem
  Esse texto foi escrito antes da década de 70. Observe como ele se mantém atual.             O que aconteceria se faltasse petróleo? Nem é bom   pensar. Seria pior que uma guerra: parariam os transportes e ,em pouco tempo não haveria mais plásticos. E o que seria de nós sem os plásticos?           Desde 1859, ano em que Edwin L Drake furou o primeiro poço de petróleo do mundo, até hoje, o petróleo e o gás percorreram um longo caminho. No tempo de Drake, o petróleo serviu apenas para substituir o óleo de baleia nas lamparinas. Hoje o petróleo e o gás são responsáveis por 50% de energia motora e técnica consumidas em todo o mundo. Do petróleo saem os lubrificantes e da petroquímica, as tintas e os tecidos sintéticos.           Tudo indica que na década de 70 a maior parte do petróleo produzido no mundo continuará sendo utilizada como fonte de energia. Nos Estados Unidos de 1858, o consumo de petróleo per capita cabia num dedal. Hoje, uma indústria de seis bilhões de dólares, empr

SE EU FOSSE PINTOR... Cecília Meireles

Imagem
      Se eu fosse pintor começaria a delinear este primeiro plano de trepadeiras entrelaçadas, com pequenos jasmins e grandes campânulas roxas, por onde flutua uma borboleta cor de marfim, com um pouco de ouro nas pontas das asas.            Mas logo depois, entre o primeiro plano e a casa fechada, há pombos de cintilante alvura, e pássaros azuis tão rápidos e certeiros que seria impossível deixar de fixá-los, para dar alegria aos olhos dos que jamais os viram ou verão.            Mas o quintal da casa abandonada ostenta uma delicada mangueira, ainda com moles folhas cor de bronze sobre a cerrada fronde sombria, uma delicada mangueira repleta de pequenos frutos, de um verde tenro, que se destacam do verde-escuro como se estivessem ali apenas para tornar a árvore um ornamento vivo, entre os muros brancos, os pisos vermelhos, o jogo das escadas e dos telhados em redor           E que faria eu, pintor, dos inúmeros pardais que pousam nesses muros e nesses telhados, e aí conversam, namor

SONETO DE FIDELIDADE Vinícius de Moraes

Imagem
                                                                                              www. dreamstime.com De tudo ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto     Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento. E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure. (Vinícius de Morais. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1974. p. 269.) 1)   O tema do texto é: a) O amor que atinge o infinito. b) O amor intenso compartilhado na alegria e na tristeza. c) O amor na sua finitude máxima. d) O amor alimentado unilateralmente. e) o amor como condição para a solidão. 2)   A palavra chama

UM PÉ DE MILHO Rubem Braga

Imagem
  Os americanos, através do radar, entraram em contato com a Lua, o que não deixa de ser emocionante. Mas o fato mais importante da semana aconteceu com o meu pé de milho. Aconteceu que no meu quintal, em um monte de terra trazido pelo jardineiro, nasceu alguma coisa que podia ser um pé de capim — mas descobri que era um pé de milho. Transplantei-o para o exíguo canteiro na frente da casa. Secaram as pequenas folhas, pensei que fosse morrer. Mas ele reagiu. Quando estava do tamanho de um palmo veio um amigo e declarou desdenhosamente que na verdade aquilo era capim. Quando estava com dois palmos veio outro amigo e afirmou que era cana. Sou um ignorante, um pobre homem de cidade. Mas eu tinha razão. Ele cresceu, está com dois metros, lança as suas folhas além do muro — e é um esplêndido pé de milho. Já viu o leitor um pé de milho? Eu nunca tinha visto. Tinha visto centenas de milharais — mas é diferente.   Um pé de milho sozinho, em um canteiro, espremido, junto do portão, numa

POESIA CINÉTICA Millôr Fernandes

Imagem
                                                                                                                                       https://www.facebook.com/emefmillor/ Millôr Fernandes (1923-2012) destacou-se como importante artista plástico, desenhista, dramaturgo e escritor no que diz respeito ao seu estilo de poesia concreto. Em seus poemas concretos ele explora a sonoridade, a aparência visual e os diversos sentidos das palavras   1)Bebeu muito, bebeu tanto/ Que saiu de lá assim .”   Reescreva esses versos    substituindo a expressão em destacada por um adjetivo mantendo  o mesmo valor semântico . 2) “Bebeu muito, bebeu tanto/ Que saiu de lá assim”. Que valor a conjunção presente nesses versos expressa? a) condição b) causa c) consequência d) conformidade e) concessão 3) Para reforçar o estado de embriaguez do homem em “ As  casas passavam em volta...”, Millôr recorre  a uma figura de linguagem nomeada como: a) metonímia b) antítese c) ironia d) personificação e) h