O CAJUEIRO Rubem Braga

 

                                                                                                                                                                                https://matanativa.com.br/arvores-do-brasil-cajueiro/


 

            O cajueiro já devia ser velho quando nasci. Ele vive nas mais antigas recordações de minha infância: belo, imenso, no alto do morro atrás da casa. Agora vem uma carta dizendo que ele caiu.

            Eu me lembro do outro cajueiro que era menor e morreu há muito tempo. Eu me lembro dos pés de pinha, do cajá-manga, da grande touceira de espadas-de-são-jorge (que nós chamávamos simplesmente “tala”) e da alta saboneteira que era nossa alegria e a cobiça de toda a meninada do bairro porque fornecia centenas de bolas pretas para o jogo de gude. Lembro-me da tamareira, e de tantos arbustos e folhagens coloridas, lembro-me da parreira que cobria o caramanchão, e dos canteiros de flores humildes, “beijos”, violetas. Tudo sumira; mas o grande pé de fruta-pão ao lado da casa e o imenso cajueiro lá no alto eram como árvores sagradas protegendo a família. Cada menino que ia crescendo ia aprendendo o jeito de seu tronco, a cica de seu fruto, o lugar melhor para apoiar o pé e subir pelo cajueiro acima, ver de lá o telhado das casas do outro lado e os morros além, sentir o leve balanceio na brisa da tarde.

            No último verão ainda o vi; estava como sempre carregado de frutos amarelos, trêmulo de sanhaços. Chovera: mas assim mesmo fiz questão de que Carybé subisse o morro para vê-lo de perto, como quem apresenta a um amigo de outras terras um parente muito querido.

            A carta de minha irmã mais moça diz que ele caiu numa tarde de ventania, num fragor tremendo pela ribanceira; e caiu meio de lado, como se não quisesse quebrar o telhado de nossa velha casa. Diz que passou o dia abatida, pensando em nossa mãe, em nosso pai, em nossos irmãos que já morreram. Diz que seus filhos pequenos se assustaram; mas foram brincar nos galhos tombados.

            Foi agora, em fins de setembro. Estava carregado de flores.

                                                                       Setembro, 1954.Cem crônicas escolhidas. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1956.



 

 

(EF69LP03) 1) Com referência às características textuais, é correto afirmar que o texto apresenta: 

a) Explanação e argumentação dos fatos. 
b) Um relato imparcial acerca dos fatos mencionados. 
c) A ideia principal através de fatos ou acontecimentos. 
d) Dados objetivos através da discussão da ideia principal. 
e) O desenvolvimento textual através de argumentos e uma sucessão de fatos.

   

 2) (EF69LP03) Em “Tudo sumira, mas o grande pé de fruta-pão ao lado da casa e o imenso cajueiro lá no alto eram como árvores sagradas protegendo a família.” São apresentadas as ideias secundárias presentes no período destacado: 

a) Indiferença. Regionalismo e religiosidade. 
b) Pessimismo, contrariedade e regionalismo. 
c) Ruína, abandono, solidão e afinidade afetiva. 
d) Submissão, saudosismo e preservação ambiental. 
e) Revolta, apego aos bens materiais e preservação ambiental.

   

 (EF69LP42)3) Na crônica, o tema abordado é: 

a) uma exposição da infância do eu lírico representada pela morte do cajueiro. 
b) uma reflexão objetiva da morte do cajueiro, marcado pela narração de fatos. 
c) uma visão singular do eu lírico sobre a morte, fazendo uma analogia com a do cajueiro. 
d) uma descrição subjetiva do eu lírico das suas lembranças de infância ante a morte do cajueiro. 
e) uma narração objetiva da infância do eu lírico por meio de reflexões simbolizadas pela queda do cajueiro.

   

 (EF06LP12) 4) O que o eu lírico nomeia como na “tala” é: 

a) pinha 
b) touceira 
c) saboneteira 
d) espada-de-são-jorge 
e) suporte para imobilizar parte do corpo fraturada.

     

 (EF67LP04) 5) Assinale o item que contém uma opinião do eu lírico. 

a) O cajueiro já devia ser velho quando nasci. 
b) Foi agora, em fins de setembro. Estava carregado de flores. 
c) Eu me lembro do outro cajueiro que era menor e morreu há muito tempo. 
d) A carta de minha irmã mais moça diz que ele caiu numa tarde de ventania. 
e) No último verão ainda o vi; estava como sempre carregado de frutos amarelos.

   

 (EF08LP15) 6) Assinale o item em que o termo destacado não é referente do QUE

a) ... e da alta saboneteira que era nossa alegria... 
b) ... lembro-me da parreira que cobria o caramanchão... 
c) Cada menino que ia crescendo ia aprendendo o jeito de seu tronco... 
d) Eu me lembro do outro cajueiro que era menor e morreu há muito tempo. 
e) A carta de minha irmã mais moça diz que ele caiu numa tarde de ventania.

   

 (EF69LP44) 7) “O cajueiro já devia ser velho quando nasci. Ele vive nas mais antigas recordações de minha infância: belo, imenso, no alto do morro atrás da casa. Agora vem uma carta dizendo que ele caiu. Eu me lembro do outro cajueiro que era menor e morreu há muito tempo. Eu me lembro dos pés de pinha, do cajá-manga, da grande touceira de espadas-de-são-jorge (que nós chamávamos simplesmente “tala”) e da alta saboneteira que era nossa alegria e a cobiça de toda a meninada do bairro porque fornecia centenas de bolas pretas para o jogo de gude. Lembro-me da tamareira, e de tantos arbustos e folhagens coloridas, lembro-me da parreira que cobria o caramanchão, e dos canteiros de flores humildes, “beijos”, violetas. Tudo sumira; mas o grande pé de fruta-pão ao lado da casa e o imenso cajueiro lá no alto eram como árvores sagradas protegendo a família. Cada menino que ia crescendo ia aprendendo o jeito de seu tronco, a cica de seu fruto, o lugar melhor para apoiar o pé e subir pelo cajueiro acima, ver de lá o telhado das casas do outro lado e os morros além, sentir o leve balanceio na brisa da tarde.” 

 Nesse excerto, há um período que, situando os fatos no passado, sintetiza a oposição que permeia o texto inteiro na caracterização da mutabilidade das coisas. Assinale o item que contém esse período. 

a) Eu me lembro do outro cajueiro que era menor e morreu há muito tempo. 
b) Ele vive nas mais antigas recordações de minha infância: belo, imenso, no alto do morro atrás da casa. 
c) Tudo sumira; mas o grande pé de fruta-pão ao lado da casa e o imenso cajueiro lá no alto eram como árvores sagradas protegendo a família. 
d) Lembro-me da tamareira, e de tantos arbustos e folhagens coloridas, lembro-me da parreira que cobria o caramanchão, e dos canteiros de flores humildes, “beijos”, violetas. 
e) Eu me lembro do outro cajueiro que era menor e morreu há muito tempo. Eu me lembro dos pés de pinha, do cajá-manga, da grande touceira de espadas-de-são-jorge (que nós chamávamos simplesmente “tala”) e da alta saboneteira que era nossa alegria e a cobiça de toda a meninada do bairro porque fornecia centenas de bolas pretas para o jogo de gude.

   

 (EF09LP08) 8) “... mas o grande pé de fruta-pão ao lado da casa e o imenso cajueiro lá no alto eram como árvores sagradas protegendo a família.” O verbete destacado estabelece ideia de: 

a) causa 
b) modo 
c) explicação 
d) comparação 
e) conformidade

   

 (EF69LP47) 9) Quanto à situação dos fatos narrados no texto, o tempo é apresentado da seguinte forma: 

a) dois planos temporais: o atual e a queda do cajueiro. 
b) dois planos atuais: o atual e o remoto e o passado. 
c) três planos temporais: o atual, a queda do cajueiro e o passado. 
d) um único plano temporal em que o autor descreve sua infância. 
e) um único plano temporal em que o autor descreve a queda do cajueiro.

   

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