O TEMPO DE RELÓGIO Gregório Duvivier
Caro amigo, existe uma imensa
variedade de horas. Na expressão “espera só meia horinha”, “meia
horinha” costuma demorar duas horas de relógio, enquanto na frase “tô te
esperando há horas”, “horas” pode significar só “meia horinha” de relógio. Por
isso a importância da expressão “de relógio”: na hora do relógio, cada um dos
minutos dura estranhos 60 segundos de relógio – não confundir, claro, com os
segundinhos e os minutinhos, que podem durar horas de relógio. “O senhor tem
cinco minutinhos?” “Tenho – mas no relógio só tenho uns dois”.
Sim, o diminutivo muda tudo. Quando
se marca “de manhãzinha”, é no início da manhã, de oito às dez, mas se por acaso
marcarem “de tardinha”, estarão se referindo ao fim da tarde, de cinco às sete.
Nada é tão simples: de noitinha volta a ser no início da noite, tornando
tardinha e noitinha conceitos intercambiáveis. Que cara é essa, amigo saxão? Você
mede comprimento com pés e polegadas.
Não
pense que para por aí: tem surgido, cada vez mais frequente, o diminutivo do
gerúndio. Ouvi de uma amiga: “outro dia te vi todo correndinho na Lagoa”.
Nada mais ridículo do que achar que se estava correndo e descobrir que só se
estava correndinho. Esse é o meu problema com esportes: só chego nos
diminutivos. Não chego a me exercitar, só fico me exercitandinho. Antes disso,
fico alongandinho. E depois reclamandinho. Diz-se de um casal que começa a namorar
que ambos estão namorandinho – no entanto, não se diz que um homem que começa a
morrer já está morrendinho.O diminutivo costuma recair sobre coisas pelas quais
a gente tem ao menos um pouco de carinho. Por isso pode-se dizer criancinha,
velhinho, mas jamais “adolescentezinho”. Pode-se dizer gatinho, cachorrinho,
mas jamais “atendentinho de telemarketing”. A não ser, claro, no seu uso
irônico: se te chamarem de “queridinho”, querem é que você exploda.
Foi o Ricardo Araújo Pereira quem
atentou para o fato de que pomos o diminutivo em advérbios. “É devagar, é devagar,
devagarinho”, diz o poeta Martinho – que carrega o diminutivo no nome. Deve ser
coisa nossa, pensei, orgulhoso, até ouvir “despacito”, o “devagarinho”
deles. Estranhamente, o vocalista fala mil palavras por minuto – de relógio.
Prefiro o Martinho.
(Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2017/07/1899750-na-hora-do-relogio-cada-minuto-dura-estranhos-)
1) Considerando as informações e o modo como tais informações são levadas ao texto, pode-se afirmar que o tema central do texto é:
a) a imprecisão linguística do brasileiro.
b) a dicotomia tempo cronológico/tempo psicológico.c) o contraste entre certas culturas europeias e a brasileira.
d) o inadequado uso de um recurso morfológico do português pelos brasileiros.
e) o emprego diminutivo de advérbios para tempo psicológico.
I. Em “Existe alguma hora que não seja de relógio?”, a oração
sublinhada é uma oração subordinada adjetiva explicativa.
II. Em “[...] tem surgido, cada vez mais frequente, o diminutivo do
gerúndio.”, a expressão destacada atua como sujeito da locução verbal “ter
surgido”.
III. “Não pense que para por aí [...]”, a oração sublinhada é uma
oração subordinada substantiva objetiva direta.
IV. Em “[...] se te chamarem de ‘queridinho’, querem é que você
exploda.”, a oração destacada é uma oração subordinada adverbial causal.
Estão corretas apenas as afirmativas
b) II e III.
c)III e IV.
d)I, II e IV.
e) I e III.
3) A tese defendida pelo autor é:
a) Expressões designativas de tempo assumem um valor conotativo no cotidiano do brasileiro.
b) Somente verbos devem ser empregados no diminutivo nas expressões designativas de hora.
c) O uso indevido das designações de hora gera zombaria.
d) O emprego diminutivo só é empregado no tempo cronológico.
e) A defesa do uso do gerúndio nos diminutivos..
4) “...mas se por acaso marcarem de tardinha,...” Substituindo a conjunção se pela conjunção quando, temos
“...
mas quando marcam de tardinha...”. A ideia que essa oração transmite é :
a) condição
b) tempo
c) concessão
d) causa
e) consequência
5) Pode-se dizer gatinho, cachorrinho, mas jamais “atendentinho de telemarketing”.” Segundo o texto, o emprego diminutivo para atendente é indevido porque :
a) a pronúncia não é sonora.
b) só se usa diminutivo para substantivos, que não é o caso do termo atendente.
c) o termo fica muito infantil.
d) o termo fica pejorativo.
e) esse termo é um substantivo e substantivo não admite diminutivo.
6) O sentido que a palavra fluido assume no texto é:
a) líquido
b) mole
c) límpido
d) relativo
e) espontâneo
7) “...que carrega o diminutivo no nome.” Sobre o pronome que é correto afirmar:
a) refere-se à letra da música Despacito.
b) está relacionado ao nome de Ricardo Araújo, humorista português que criou esse termo.
c) refere-se ao termo sinônimo devagarinho
d) está relacionado ao uso de advérbios no diminutivo.
e) refere-se ao cantor Martinho da Vila, pois Martinho é diminutivo de Martim.
8) ‘...cada um
dos minutos dura estranhos 60 segundos de relógio - ... ”Considerando o emprego do adjetivo estranhos,
pode-se inferir que:
a) o adjetivo é inadequado, uma vez que um minuto tem 60 segundos.
b) é coerente com o texto, pois caracteriza a incongruência entre os tempos cronológico e psicológico.
c) é inapropriado, pois fica fora do campo semântico do texto.
d) está de acordo com a duração do tempo psicológico.
e) está em desacordo com a tema do texto.
9) “A não ser, claro, no seu uso irônico: se te chamarem de “queridinho”, querem é que você exploda.” O pronome seu refere-se a que vocábulo do texto?
a) atendentinho.b) queridinho
c) diminutivo
d) advérbio
e) telemarketing
10) “... casal
que começa a namorar que ambos estão namorandinho...” A
alternativa que contém informações corretas acerca da palavra destacada é:
b) significa um e outro, é adjetivo
c) significa um e outro, é numeral.
d) significa um ou outro, é adjetivo.
e) significa um e outro, é substantivo.
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